A modelo e artista visual criou, em 2015, a série How Do I Feel Today, intervenções diárias em um retrato dela, que refletiam seu humor ao longo de um ano. A partir dessa obra, ela lançou um projeto de workshops para incentivar crianças de baixa renda a expressarem seus sentimentos por meio da arte.
Como surgiu sua relação com a arte?
Desde muito nova sempre me interessei por arte, na escola era minha matéria preferida. Carregava comigo um caderno de desenho, adorava chamar minhas amigas em casa para passar a tarde pintando. Na minha família mineira temos muitos músicos. Já do outro lado, da família argentina, meu avô colecionava arte e no final da vida até pintou. Infelizmente não tive o prazer de conhecê-lo bem, pois quando ele faleceu eu tinha apenas dois anos. Mas não desconsidero que minha relação com a arte possa ser hereditária, ou até espiritual.
Onde você busca inspiração?
Nos livros, nos museus, na música, na história. As pesquisas são fundamentais. Leia, busque, pesquise que a inspiração lhe vem como de improviso.
Como é seu processo criativo?
No meu processo criativo eu preciso de tempo, madrugada e solitude. Gosto de ouvir música clássica: Erik Satie e Franz Schubert sempre me inspiram. Mergulho primeiro nas pesquisas, para depois começar a criar.
Para você, moda também é arte?
Com certeza, também é uma forma da arte se expressar. A moda e a arte andam juntas.
Qual foi a primeira obra de arte que teve um significado especial para você?
Não foi uma obra, mas uma exposição inteira que vi no Musée d’Orsay, em Paris, quando tinha 16 anos. Era uma exposição de releituras feitas por Picasso de quadros famosos como As Meninas, de Velázquez, Almoço na Relva, de Manet. Achei fantástico, e me mostrou como até os grandes mestres encontram inspiração em outros grandes artistas.
Você acredita que a arte pode ser uma forma de terapia?
Eu não acredito, eu sei! São cientificamente comprovados os efeitos terapêuticos que a prática da arte produz. Ainda vou além da ciência: acredito que quando estamos conectados ao nosso estado criativo, estamos conectados com o divino. E qualquer um é capaz de acessar este canal. No momento em que estamos praticando a arte, seja ela em qualquer forma de manifestação, estamos totalmente conectados ao momento presente, estamos conectados com nós mesmos.
Além da pintura você usa outro meio para se expressar artisticamente?
Eu costumava fotografar muito com câmeras analógicas antes de começar a pintar. Hoje estou me aprofundando na área da joalheria, aprendendo técnicas da ourivesaria, pretendo fazer jóias artísticas.
Como a expressão artística pode criar um impacto social positivo?
A arte possibilita um diálogo com quem a observa e com quem a pratica. Propõe uma reflexão e aprofunda o modo como nos expressamos e como observamos o mundo. Nos ajuda a acessar sentimentos, memórias, traumas, questões que precisam de atenção. A meu ver, todo mundo é artista. Por isso, o objetivo do meu projeto é exatamente esse: despertar o artista que existe dentro de cada um de nós, estimular a nossa maior benção, a criatividade.
O que você espera para o futuro do projeto “How Do I Feel Today”?
Espero alcançar o máximo de pessoas que puder, de diferentes cidades e países. E almejo também conseguir passar a mensagem com maestria, germinando a sementinha do artista que existe em cada um de nós.
Qual o papel da arte no mundo?
Acredito no aforismo grego “Conhece a ti mesmo” (atribuído a Sócrates, e que sugere que o autoconhecimento seria o ponto de partida para o conhecimento do mundo e da verdade). A arte é uma ferramenta para o autoconhecimento, e quanto maior for a dedicação e o envolvimento com ela, aquele que a prática estará mais próximo do seu eu, da sua verdade.