Vinicius Santanna, Patrik Fortuna e Luciene Santana são o trio por trás de uma das marcas nacionais mais desejadas dos últimos anos. À frente do Ateliê Mão de Mãe, eles criam peças-desejo feitas com a prática artesanal do crochê, que dá forma a camisas, calças, regatas, biquínis e até acessórios. As peças atemporais exaltam a ancestralidade baiana, conquistando o público e também as passarelas, sendo destaque no line-up da Brasil Eco Fashion Week e da São Paulo Fashion Week.
Qual é a magia guardada no trabalho artesanal?
Enquanto expressão autêntica de criatividade, ele transcende gerações, conectando o passado ao presente por meio das mãos dos artesãos.A simplicidade dos materiais utilizados proporciona a criação de peças incríveis, explorando texturas e combinações inusitadas. O ato de criar manualmente oferece uma satisfação única, carregando a energia e a dedicação do artesão em cada peça, em contraste com a produção em massa. Diversas técnicas, como quilling, decoupage e macramê, oferecem oportunidades criativas, enquanto o artesanato sustentável destaca a importância da reutilização de materiais. Cada peça tem seu valor único, enfatizando que o artesanato é mais do que uma profissão, é uma jornada gratificante de autodescoberta e expressão criativa.
Quantas histórias uma peça de roupa pode guardar?
Diversas, pois para a produção de uma peça é preciso das mãos habilidosas das nossas crocheteiras, além da visão artística que temos na concepção de cada modelo. A roupa deve mostrar ao mundo quem você é, e, para isso, nós fazemos questão de que nossos clientes se identifiquem com a marca com total sinergia entre sua personalidade, estilo de vida e visão de mundo. Fazer do crochê uma arte tão grande como estamos vendo nos últimos anos é levar para o centro da moda o trabalho manual por meio da valorização dos criadores em todas as etapas.
Como vocês enxergam o impacto social da marca?
Fazemos questão de manter a sede em Salvador para impulsionar a economia local e afirmar que temos orgulho do Ateliê Mão de Mãe ter nascido aqui. Buscamos jogar luz em assuntos que vão além da moda simplesmente, nos preocupamos com a inclusão de pessoas pretas, LGBTQIAPN+, entre outras, para tornar esse meio tão homogêneo, mais diverso e plural. Recebemos feedbacks positivos sobre nosso posicionamento e acreditamos estar no caminho certo. Também nos preocupamos em manter boas parcerias comerciais com marcas que seguem essa mesma linha, para que o Ateliê se mantenha fiel ao seu propósito.
Podem compartilhar um aprendizado que tiveram com alguma artesã?
São tantos! Mas nossas crocheteiras têm tido a possibilidade de mudar toda a vida de suas famílias com a valorização do crochê que o Ateliê Mão de Mãe tem proporcionado. Muitas nunca exploraram essa forma de arte comercialmente antes, e, agora, podem extrapolar os limites da criatividade, concebendo peças que elas nem imaginavam. O sucesso dos designs das peças se dá a partir da experiência de vida de cada crocheteira e da visão artística da marca, e hoje atinge muita gente pelo Brasil. Valorizamos profundamente cada pessoa envolvida no processo de criação.
Quais desafios vocês enfrentam ao empreender com moda no Brasil?
Tivemos uma certa resistência no setor, principalmente pelo momento em que decidimos criar o Ateliê Mão de Mãe. A marca nasceu em uma região que não está inserida geralmente na rota da moda, que se concentra apenas entre Rio-São Paulo. Mas nosso objetivo sempre foi expandir esse trecho e mostrar que o Brasil tem muita coisa boa para proporcionar em cada canto do país. Em plena pandemia, montamos um escritório em um cômodo de casa para desenvolver nossas ideias até o lançamento da marca. Logo no começo, participamos de desfiles online até chegar nas passarelas pelo Sudeste no país, sempre levando o nosso DNA soteropolitano. O investimento para estar nesses eventos, além da criação das peças, é muito alto, por isso precisamos correr atrás de parcerias para ter mais apoio, tanto financeiro quanto uma relação de associação ao nome de outras grandes marcas. Também sempre fizemos questão de buscar os melhores materiais para nossas peças e ter as melhores crocheteiras trabalhando conosco. Com o tempo nós pudemos viabilizar melhorias nas remunerações e nos acordos comerciais para que hoje, em 2024, pudéssemos estar com nossa Casa Ateliê Mão de Mãe inaugurada para transmitir nossa missão aos clientes e amigos.
Sentem cobranças do mercado?
Acreditamos que as cobranças na área de moda são fortes para todas as marcas que estão em evidência, porém, focamos em qualidade em vez de quantidade. Não temos um estoque tão grande quanto outras marcas gigantes do varejo, dessa forma, conseguimos entregar um serviço mais premium para os clientes. Estudamos parcerias para diversificar ainda mais nosso público, como a colaboração que tivemos em 2023 com a C&A no lançamento de uma coleção exclusiva.
Por que devemos falar sobre a descentralização do mercado nacional do eixo Rio-São Paulo?
Muito mais do que falar sobre, precisamos fazer algo a respeito. Nossa marca é pautada nessa questão. O Brasil é muito grande para que apenas um trecho seja responsável em ditar o que pode ou não funcionar. Entendemos que há um grande fluxo de vendas entre Rio de Janeiro e São Paulo e precisamos estar presentes lá, mas manter raízes e tradições onde as marcas nascem é necessário para que, com o tempo, outras áreas sejam incluídas no debate sobre tendências no nosso mercado.
O que regenerar significa para vocês?
O ser humano é capaz de muitas coisas, inclusive se reinventar. Todos os dias temos a chance de transformar o ambiente em que vivemos, e a regeneração faz parte disso. E vamos errar, mas é nossa capacidade de mudar a rota e fazer melhor da segunda, terceira ou quarta tentativa que faz com que sejamos tão bons em transformar as coisas. Além de regenerar, também podemos ressignificar: é aí que o Ateliê entra, estamos levando para um grande público novas possibilidades, com trabalho artesanal de alto padrão. Vamos nos regenerar sempre que for preciso.