Creative Space: Afrobapho

Create, resist

The art and activism collective from Bahia celebrates ten years of existence with the knowledge that it is still needed

BY/POR GAÍA PASSARELLI

Created by young black LGBTQIAP+ people from the outskirts of Salvador, Afrobapho has established itself as one of the main platforms for art, culture, and political mobilization in a country that continues to lead in rates of violence against trans people and where spaces of power remain predominantly white and cisheteronormative. In 2025, the collective celebrates its first decade with new projects, a strengthened network, and the same need to transform realities.

The response stems from a mix of aesthetics, discourse, and affection: “Creativity is what allows us to exist in a world that so violently abuses us,” says creator Alan Costa Bispo, 35, from Santo Antônio de Jesus, Bahia. “It is with creativity that we create safe spaces, transform our experiences into narratives, and can be respected for who we are.”

The collective’s inception began in 2015 in a Facebook group, created by Alan as an intersectional space to reflect on race, gender, and sexuality. From that virtual space, the initiative soon spread to the city. Dance performances, videos, photo shoots, and street interventions became ways to raise awareness of urgent issues, using accessible language and powerful visual tools. 

One of their first notable projects was an essay on the genocide of black youth, performed in front of the headquarters of the military police of the State of Bahia, with data from Atlas da Violência [Atlas of Violence] used in the captions. The performance went viral and caught the attention of Amnesty International, which invited Afrobapho to join the Jovem Negro Vivo campaign. From that moment on, the collective established itself as a creative and political force, a reference for an entire generation of dissident artists.

Afrobapho’s internal organization is mixed and diverse, just like the group itself. Today, the project is made up of twenty members who work in areas such as dance, audiovisual arts, cultural production, music, visual arts, and development of projects for grants. Many come from neighborhoods like Sussuarana, Calabar, and Nordeste de Amaralina—and it is with and for these communities that the collective works. “Our message is also for those who live with us, our family, our neighbors. We want to be recognized in these spaces,” says Alan.

The most moving encounters during this first decade of activity came precisely from the audience’s reaction. One of them took place during a performance at a school in Sussuarana. “We were nervous. Many of us have memories of violence at school, for being effeminate or different, but we were greeted with applause and affection. The children wanted to take pictures with us. It was very symbolic.” Beyond the local impact, international recognition also reached them: the collective was mentioned in 2020 by Vogue US as one of the top ten narratives on diversity and inclusion in the world in the post-Stonewall Uprising period. For Alan, however, nothing surpasses the stories he hears after the shows: “People who say they have changed their minds, that they are no longer prejudiced. That is bigger than any viral video.”

Today, Afrobapho operates as a platform that connects black and LGBTQIAP+ artists and cultural agents from different regions. Current projects include the show Corpoemas em Movimento, touring theaters in Bahia, and the revival of Afrobapho Lab, focused on training independent artists, with support from the Aldir Blanc grant. To celebrate its tenth anniversary, the collective is also preparing a new edition of the Afrobapho Festival and is considering producing a documentary. “Our dream is to have financial stability to continue producing free and powerful art in Salvador and elsewhere in Brazil. And to continue nurturing this cultural scene that we help support,” concludes Alan.


Afrobapho: criar, resistir

Coletivo baiano de arte e ativismo completa dez anos de existência sabendo que continua necessário

Criado por jovens negros LGBTQIA+ das periferias de Salvador, o Afrobapho se consolidou como uma das principais plataformas de arte, cultura e mobilização política em um país que segue liderando os índices de violência contra pessoas trans e onde os espaços de poder continuam sendo majoritariamente brancos e cisheteronormativos. Em 2025, o coletivo celebra a primeira década de vida com novos projetos, fortalecimento de rede e a mesma urgência de transformar realidades.

A resposta parte do mix de estética, discurso e afeto: “A criatividade é o que permite que a gente exista neste mundo que tanto nos violenta”, diz o idealizador Alan Costa Bispo, 35 anos, natural de Santo Antônio de Jesus (BA). “É com ela que criamos espaços seguros, que transformamos nossas vivências em narrativas e conseguimos ser respeitados pelo que somos.”

O embrião do coletivo surgiu em 2015, em um grupo de discussão no Facebook, pensado por Alan como um espaço interseccional para refletir sobre raça, gênero e sexualidade. Do ambiente virtual, a iniciativa logo transbordou para a cidade. Performances de dança, vídeos, ensaios fotográficos e ações de rua tornaram-se meios de fazer circular questões urgentes, com linguagem acessível e muito poder visual. 

Um dos primeiros projetos marcantes foi um ensaio sobre o genocídio da juventude negra, realizado em frente à sede da Polícia Militar da Bahia, com dados do Atlas da Violência nas legendas. A ação viralizou e chamou a atenção da Anistia Internacional, que convidou o Afrobapho para integrar a campanha Jovem Negro Vivo. A partir dali o coletivo se firmou como força criativa e política, como referência para toda uma geração de artistas dissidentes.

A organização interna do Afrobapho é múltipla e diversa, como o próprio grupo. Hoje, o projeto é formado por vinte integrantes que atuam em frentes como dança, audiovisual, produção cultural, música, artes visuais e elaboração de projetos e editais. Muitos deles vêm de bairros como Sussuarana, Calabar e Nordeste de Amaralina — e é com e para essas comunidades que o coletivo atua. “Nosso discurso também é para quem convive com a gente, nossa família, nossos vizinhos. Queremos ser reconhecidos nesses espaços”, afirma Alan.

Os encontros mais emocionantes dessa primeira década de atividade vieram justamente da reação do público. Um deles aconteceu durante uma apresentação em uma escola de Sussuarana. “Estávamos nervosos. Muitos de nós temos lembranças de violência na escola, por sermos afeminados ou diferentes, mas fomos recebidos com aplausos, com carinho. As crianças queriam tirar foto com a gente. Foi muito simbólico.” Para além do impacto local, o reconhecimento internacional também veio: o coletivo foi citado, em 2020, pela Vogue US como uma das dez principais narrativas sobre diversidade e inclusão do mundo no período pós-Revolta de Stonewall. Para Alan, porém, nada supera os relatos que escuta após os shows: “Pessoas que dizem que mudaram de ideia, que deixaram de ser preconceituosas. Isso é maior que qualquer viral”.

Hoje, o Afrobapho funciona como uma plataforma que articula artistas e agentes culturais negros e LGBTQIA+ de diferentes regiões. Entre os projetos atuais estão o espetáculo Corpoemas em Movimento, em circulação por teatros da Bahia, e a retomada do Afrobapho Lab, voltado à formação de artistas independentes, com apoio da Lei Aldir Blanc. Em comemoração aos dez anos, o coletivo também prepara uma nova edição do Festival Afrobapho, e estuda a produção de um documentário. “Nosso sonho é ter estabilidade financeira para seguir produzindo arte gratuita e potente, em Salvador e em outros lugares do Brasil. E continuar alimentando essa cena cultural que a gente ajuda a sustentar”, finaliza Alan.

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