Artistas do futuro
Dois mil e dezoito foi o ano em que me tornei curadora de arte. Depois de mais de uma década em Berlim e de, nalmente, ter entendido que não sou tão aceita aqui quanto meus amigos europeus (ou descendentes de), e que meu trabalho não seria visto como prioridade pelas gravadoras, promoters ou espaços culturais, decidi criar minha própria plataforma, pelas gravadoras, promoters ou espaços culturais, decidi criar minha própria plataforma, onde pessoas como eu seriam reconhecidas e tratadas como prioridade: imigrantes, negros, trans e artistas queer - pessoas que quebram barreiras, questionam a identidade de gênero e precisam se reinventar para existir na sociedade atual.
Criei a Empower no verão de 2017 como uma festa techno e fiz um vídeo com sete artistas queer da cena de Berlim para divulgar o evento. Logo depois desse trabalho, tive vontade de oferecer a esses artistas um evento mais completo, onde eles pudessem, além de mostrar seus trabalhos, fazer parte de uma discussão mais ampla a partir do repertório de cada um. Queria criar um evento onde as pessoas pudessem se divertir, dançar, mas também participar de discussões sobre política de identidade, explorar diferentes tipos de arte, mídia e música avant-garde. Como mulher trans pós-operada, imigrante negra na Europa, tenho certeza de que eu e minhas amigas artistas de diferentes etnias somos cidadãs do futuro assim como nossa arte, e devemos buscar nosso lugar ao sol, o que é muito mais desaador, já que não nos encaixamos no que se espera dentro de conceitos como o da “black music” ou da “arte feminista”.
Como DJ de techno, cantora e compositora de música experimental, sentia falta de uma estrutura adequada e de um público maior nos eventos organizados por imigrantes queer como eu. Por outro lado, nos eventos ou nas gravadoras de música alternativa, sentia falta do acolhimento, do apoio e do empoderamento de que precisava para me sentir inserida naquele ambiente dominado por homens brancos. Em agosto de 2018, usando a empatia, o pensamento estratégico e tudo o que aprendi na cena musical underground de Berlim, expandi o conceito do Empower e lancei, em parceria com a curadora de arte Jumoke Fernandez o EmpowAir, meu primeiro festival de música e arte digital, nanciado pelo governo alemão. Foi um processo incrivelmente desafiador, no qual me desdobrei em cinco para dar conta de tudo. E deu certo! Criei um evento multimídia onde minhas irmãs e eu dominamos não só o line-up mas todo o resto. Cuidamos do som, da produção e do marketing.
Embora qualquer pessoa com um laptop possa fazer música, ainda é uma ilusão pensar em igualdade. Em meio a milhões de posts, grandes eventos e gravadoras comandadas por homens brancos, a plataforma certa, a divulgação feita por bons PRs (relações públicas) e a infraestrutura adequada são mais importantes do que nunca. E foi assim, por necessidade, que me tornei curadora de arte e continuarei a desafiar as estruturas por meio do meu trabalho criativo.