Revolução Estelar
(Uma ficção para ler ouvindo We Are All Made of Stars, de Moby)
O ano é 2089.* Mas só há pouco menos de quatro décadas tivemos avanços científicos significativos para fomentar a cura do planeta. Foi quando a ciência ocidental finalmente entendeu que, para olhar para frente, era necessário antes olhar para cima. Sim, para o céu. Foi olhando para o cosmos que mudamos o rumo da humanidade.
Seguindo a teoria de que o universo está em constante expansão (Edwin Hubble, 1889–1953), entendemos que a união de partículas de gás que vão se concentrando devido às forças gravitacionais criam uma gigantesca nuvem que se transforma num corpo celeste emissor de luz. Ou o que chamamos de estrela.
Desde então, as estrelas ficaram famosas por seu poder de transmutação nuclear. Elas captam matérias simples, como o hidrogênio, e as fundem em substâncias químicas mais complexas, como o hélio. Outro exemplo é o carbono, elemento que não existia na origem do universo e que foi sintetizado a partir dessas fusões nucleares dentro das estrelas há 4,5 bilhões de anos.
Em 2049, descobrimos que todos os seres vivos no nosso planeta, incluindo plantas, animais e humanos, são feitos essencialmente de átomos de carbono. Elemento este que esteve no interior de uma estrela em algum momento na história do cosmos.
Tudo mudou quando descobrimos que somos filhos das estrelas. O sentimento de conexão, livre de crenças religiosas e políticas, que se apoia única e exclusivamente na ciência, criou uma consciência diferente de tudo o que havia sido visto na história da humanidade. E que nos levou à Revolução Estelar, em 2055.
“Somos um meio para o universo conhecer a si mesmo. O cosmos também está dentro de nós. Afinal, somos feitos de matéria estelar”, já disse o cientista, físico e astrônomo norte-americano Carl Sagan (1934–1996). Compreender de onde viemos nos deu a oportunidade de refletir para onde vamos. Hoje, no ano de 2089, celebramos uma crescente e inédita recuperação do nosso planeta. A Revolução Estelar criou uma espécie de árvore genealógica cósmica, trazendo assim a consciência que faltava para a integração definitiva entre nós e o Universo.
Parece um sonho, e é.
*O ano é 2019. Nós já reconhecemos como fato científico – há pelo menos quarenta anos – que todos os seres vivos no planeta Terra contêm átomos, como o carbono, que um dia estiveram no interior de uma estrela. Contudo, nossa ascendência estelar parece ainda não tocar as pessoas como deveria. E assim, esse ideal de comunhão vai ficando para depois… Para 2089, quem sabe.