Questions for: Samela Sateré Mawé

BY / POR PAULA JACOB

One of the voices in environmental activism at Fridays for Future Brazil, the national branch of the initiative created by Greta Thunberg, Samela grew up among the speeches and struggles of the Sateré Mawé Indigenous Women's Association. Today a biologist and contributor to the newspaper Estadão, she works as a communication advisor at the Articulation of Indigenous Peoples of Brazil (APIB) and the National Articulation of Indigenous Women Warriors of Ancestry. She uses social networks as a platform for disseminating information about territory and national climate justice policies, demystifying distorted views of relevant issues, such as the demarcation of indigenous territories in Brazil.

Did you always think or want to use your voice to talk about environmental human rights?

I had no idea what would happen in my life when I was a child. I have always been present in the indigenous movement, specifically the women's movement, participating in acts, manifestos, exhibitions, especially because I came from the Sateré Mawé Indigenous Women's Association. And our agenda has always been about gender issues, violence against women, and their autonomy in crafting. But I never thought it could go beyond that. I became politically aware at a young age, but I didn't know what would happen.  

What still needs improvement in disseminating the causes of indigenous peoples in Brazil?

There is still a lot of structural and ingrained prejudice in Brazil. And everything we see in major media outlets is still idealized, thought, and based on colonial thinking. One that makes indigenous peoples "be this" or "be that". I believe that a greater understanding of the indigenous and environmental agenda would be better for disseminating the cause of our peoples. Today, for the first time, we are actively participating in the political construction of a government,with representations from the Ministry of Indigenous Peoples, at Funai [National Foundation of Indigenous Peoples], at Sesai [Secretariat of Indigenous Health], etc. However, I believe there still needs to be a significant effort in communication and education regarding indigenous peoples so that our issues are disseminated and made visible in the correct way, and not treated as something of lesser importance.  

What are the main issues for climate activism today?

For us, the main issue for climate activism is the demarcation of indigenous lands. We know that is there where biodiversity, fauna, and flora preservation exist. Before, Brazil was an entirely indigenous territory, now only 13, 14% remains. And most of these lands are in the Amazon, the world's largest biome. And we are the main defenders of this biome and all the others. Without nature, without the rivers, there is no life on the planet. And then comes the political issue: people against the demarcation of indigenous lands are also against life and the climate activism that we defend so much. 

In your view, what does it mean to regenerate?

We, indigenous women, talk about reforesting -- something that exists but is modified, or dies and survives. We use regenerate, but aligned with reforesting in the sense of healing the land. For environmental change, we need, above all, attitude. We need to reflorest our minds. 

Is there time to take care of yourself, your mind, your health?

There's little time to take care of myself, my mental health. And this is a very specific point, especially when talking about social media and youth. It seems like we live between two worlds… There are so many violations and violence that we go through, our territory being denied, our leaders being murdered and criminalized; people referring to us as inferior. Not having a perspective of university, work, demarcated territory, it is very complicated to see all this happening when you are young, militant, activist. The numbers of suicides among the Guarani relatives have increased a lot. We don't have time for ourselves, to rest. We don't have time to be young, to be a woman, to enjoy a vacation, because we live in constant alert due to the threats we face daily.  

Activist youth are reaching increasingly important places. How do you feel about that?

Youth play a very important role in leading visibility within the movement. I believe that we deeply respect our ancestry, the people who came before us, our elders, chiefs, shamans, tuxauas, leaders, because they provided us with the spaces we occupy today. If they hadn't paved the way for us, perhaps we wouldn't have been able to occupy these spaces as easily. I won't say with so much ease, because it is still a closed, elitist environment. However, it was harder for those who came before us, and now, we can also reach international spaces thanks to social media. I won't take away the merit of the internet, which lifts the voices of indigenous peoples from the ground of the territory to the ground of the world. When the youth are aligned with the movement's agenda, it can only get better. I feel happy to see more young people occupying spaces of visibility because it also inspires others, showing that we are not alone or should be ashamed of our culture.

What does motherhood represent for you at this moment?

For me, motherhood represents a form of resistance. For many years, they have colonized us, tried to kill us, erase our identity, not demarcate our territories, deny all the history of violence and violations they have inflicted on us... And then, when we bring another indigenous life into the world, it means we have decided not to kill, not to die. But we also decide to multiply, to keep our culture, our identity alive. It is another seed of the movement, another seed of the fight.

Can you tell us a little about the transformations you and Tukumã envision together for the future?

We no longer want any kind of violence or death. We do not want our bodies and territories to be denied every day. We want to be part of the political construction of our country; we want to be consulted. And we also want our territories to be demarcated.


Uma das vozes no ativismo ambiental na Fridays for Future Brasil, braço nacional da iniciativa criada por Greta Thumberg, Samela cresceu entre as falas e lutas da Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé. Hoje bióloga e colaboradora do jornal Estadão, ela atua como assessora de comunicação na Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e na Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade. Também usa as redes sociais como plataforma de disseminação de informação sobre território e políticas nacionais de justiça climática, desmistificando visões deturpadas de pautas relevantes, como a demarcação dos territórios indígenas no país. 

Você sempre quis usar sua voz para falar sobre direitos ambientais?

Eu não tinha ideia do que iria acontecer na minha vida quando eu era criança. Sempre estive presente no movimento indígena, especificamente no movimento de mulheres, participando de atos, manifestos e exposições, até porque eu vim da Associação das Mulheres Indígenas Sateré Mawé. E a nossa pauta sempre foi a questão de gênero, da violência contra a mulher e a autonomia delas na fabricação do artesanato. Mas eu nunca pensei que pudesse passar disso. Eu me formei politicamente ainda jovem, mas eu não sabia o que iria acontecer.

O que ainda precisa melhorar na disseminação das causas dos povos originários do Brasil?

Ainda existe preconceito estrutural e enraizado no país. E tudo que a gente vê nos grandes veículos ainda é idealizado, pensado e baseado no pensamento colonial, que faz os povos indígenas “serem isto“ ou “aquilo“. Eu acredito que um maior conhecimento da pauta indígena e da ambiental seria melhor para disseminar as causas dos nossos povos. Hoje, pela primeira vez, estamos participando ativamente da construção política de um governo, com representações do Ministério dos Povos Indígenas, na Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas], na Sesai [Secretaria de Saúde Indígena] etc. Porém, acredito que ainda seja preciso trabalhar por uma construção da comunicação e da educação em relação aos povos indígenas para que as nossas pautas sejam visibilizadas da forma correta, e não tratadas como algo de menor importância.  

Quais são as principais questões para o ativismo climático hoje?

Para nós, é a demarcação das terras indígenas. Sabemos que é onde existe preservação da biodiversidade, da fauna e da flora. Antes, o Brasil era território indígena em sua totalidade, agora só restou 13, 14%. A maioria dessas terras está na Amazônia e nós somos os principais defensores desse bioma, e de todos os outros. Sem a natureza, sem os rios, não existe vida no planeta. E ser contra a demarcação das terras indígenas é, portanto, ser contra a vida e o ativismo climático que defendemos.  

Na sua visão, o que significa regenerar?

Nós, mulheres indígenas, falamos sobre reflorestar. Algo que existe mas é modificado, ou morre e sobrevive. Para a mudança do meio ambiente, precisamos, antes de tudo, de atitude. Precisamos reflorestar a nossa mente.  

Há tempo para cuidar de si, da sua cabeça, da sua saúde?

Há pouco tempo para cuidar de mim, da minha saúde mental. Isso é um ponto bem específico, ainda mais falando de redes sociais e juventude. Parece que vivemos entre dois mundos… São tantas violações e violências que passamos, nosso território sendo negado, nossas lideranças assassinadas e criminalizadas; pessoas referindo-se a nós como inferiores. Não ter perspectiva de universidade, de trabalho, de território, é complicado ver tudo isso quando se é jovem, militante, ativista. Os números de suicídios nos parentes Guarani têm aumentado muito. Não temos tempo para nós, para descansarmos. Não temos tempo para ser jovem, ser mulher, curtir umas férias, porque vivemos em constante alerta pelas ameaças que sofremos diariamente.

A juventude ativista está alcançando lugares cada vez mais importantes. Como você se sente em relação a isso?

A juventude tem um papel muito importante no protagonismo da visibilidade dentro do movimento. Eu acredito que a gente respeita a ancestralidade, as pessoas que vieram antes da gente, dos nossos anciãos, dos nossos caciques, dos nossos pajés, dos nossos tuxauas, das nossas lideranças, porque eles nos proporcionaram os espaços que ocupamos hoje. Se eles não tivessem aberto o caminho, talvez a gente não teria ocupado esses espaços com mais facilidade. Não vou dizer com tanta facilidade, porque ainda é um ambiente fechado, elitista. Porém, era mais difícil para os que vieram antes de nós e, agora, conseguimos alcançar lugares internacionais também por conta das redes sociais. Não vou tirar o mérito da internet, que faz as vozes dos povos indígenas saírem do chão do território e irem para o chão do mundo. Quando a juventude está alinhada com a pauta do movimento, isso só tem a melhorar. Eu me sinto feliz em ver que mais jovens estão ocupando espaços de visibilidade, porque isso também inspira outros, mostra que não estamos sozinhos ou que devemos ter vergonha da nossa cultura. 

O que a maternidade representa para você neste momento?

Para mim, ela representa uma forma de resistência. Durante muitos anos, eles nos colonizam, tentam nos matar, apagar a nossa identidade, não demarcar os nossos territórios, negar todo o histórico de violências e violações que eles nos fizeram... E aí quando colocamos mais uma vida indígena no mundo significa que decidimos não matar, não morrer. Mas também decidimos multiplicar, manter a nossa cultura, a nossa identidade viva. É mais uma semente do movimento, é mais uma semente da luta.  

Pode nos contar um pouco sobre as transformações que você e Tukumã pensam juntos para o futuro?

Não queremos mais nenhum tipo de violência ou de mortes. Não queremos que os nossos corpos e territórios sejam negados todos os dias. Queremos fazer parte da construção política do nosso país, queremos ser consultados. E também queremos que os nossos territórios sejam demarcados.

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