A artista nigeriana Rewa celebra a forma feminina em obras multicoloridas. Autodidata, ela se inspira no cotidiano e em suas experiências pessoais nas três cidades que considera sua casa: Lagos, Londres e Joanesburgo. Seu maior objetivo é perpetuar a herança cultural Igbo por meio da arte.
Como você descreveria sua arte?
Eu prefiro chamar de Arte Vernacular Igbo. Acredito ter criado obras originais, que não se enquadram na classificação tradicional ocidental. Minha arte é inspirada na vida real, extremamente conectada ao meu lugar e cultura de origem, a cultura Igbo, da Nigéria.
Quais são suas maiores influências?
Eu simplesmente adoro o trabalho de Toyin Ojih Odutola e Njideka Akunyili Crosby. Gosto do impacto que as artistas nigerianas estão causando na arte atual. E também amo Vincent Van Gogh! Ele começou a pintar com 28 anos, sem ter frequentado cursos de arte e ele adorava cores – assim como eu. No âmbito mais pessoal, as mulheres inspiram minha arte. Também me inspiro na minha cultura e acho que a minha geração está perdendo elementos importantes da nossa herança cultural. Gostaria muito de perpetuá-los através da minha arte.
Como você escolhe o que vai ser retratado em suas obras?
Atualmente, minha irmã mais nova tem sido minha musa. De modo geral, retrato mulheres cujas características me inspiram e me causam admiração.
Você se considera uma artista feminista?
Me considero uma artista vernacular Igbo em primeiro lugar, e feminista em segundo. Gosto de exaltar as mulheres, mas o objetivo primordial da minha arte é informar o público, promovendo o diálogo e a educação. Acredito que precisamos de mais representatividade feminina.
Onde você busca inspiração quando precisa?
Por mais clichê que isso possa parecer, as atividades cotidianas me bastam; as conversas com meu marido ou com meu pai, as viagens, os momentos divididos entre amigos, minha própria experiência de vida. E a lista não acaba por aí. Não preciso ir muito longe para encontrar inspiração, a vida vem e voilà! Me surpreende!
O que a arte significa para você?
A arte é uma forma de catarse e de comunicação. É o instrumento que uso para relaxar e criar um diário visual que possa ensinar as pessoas sobre minhas raízes e sobre a cultura da Nigéria. Da mesma forma que aprendi sobre a vida dos camponeses na Holanda com Van Gogh e sobre o bombardeio de Guernica com Picasso, gostaria de ensinar as pessoas sobre minha herança cultural.
Qual a primeira obra de arte que te emocionou?
Tutu, (1973) de Ben Enwonwu. Graças ao meu pai, conheci a obra ainda criança e, desde então, ela permanece em minha memória. A obra retrata uma linda mulher que chama a atenção. Gosto de acreditar que ela representa a Nigéria recém-independente, ainda sob a in uência de seu passado colonial, mas vislumbrando um futuro glorioso à sua frente.
Você acredita que, no mundo atual, qualquer pessoa pode se tornar artista?
Depende muito do meio em que vivem. No mundo ocidental pode ser que sim, já que materiais adequados estão disponíveis. Na Nigéria e em outros países menos desenvolvidos, por exemplo, acho mais difícil. O acesso ao material, a falta de equipamentos e infraestrutura como galerias e museus, problemas de conectividade e demais pressões da sociedade acabam por dificultar bastante as coisas.
Qual é sua série preferida, de sua própria autoria? Por quê?
Minha série atual, INU NWUNYE: Bride Price – por muitas razões. Primeiro, porque eu já queria retratar o agora obsoleto ritual de casamento da cultura Igbo para minha geração e para o público em geral. Muitas de nossas tradições se perderam ou deram lugar a costumes ocidentais, com suas superestruturas impostas à população local. E também porque essa série me desafiou tecnicamente. Essa série provou minha competência e poder de superar minhas inseguranças por não ter tido formação acadêmica em arte. Fui capaz de retratar a visão que tinha em mente nas telas e amei cada segundo dessa experiência!
Como a arte pode mudar o mundo?
Pessoalmente, creio que a arte estimula o diálogo e a troca de informações. É de extrema importância, na medida em que desconstrói estereótipos, divisões de gênero, raça, religião, idade, e outras normas impostas pela sociedade. A arte traz à tona discussões importantes e é tão vital quanto a música. Ninguém deveria viver sem arte!