In Focus: I am because we are
BY/POR MARIANA LOURENÇO & GABRIELA SPLENDORE
Since Stories Collective’s first issue, we have understood the power and impact of good stories. Narratives and journeys may be unique (and celebrated for that), but they impact the whole. After all, we are not alone: our individuality, our identity, and our authenticity are part of something bigger. As the Ubuntu philosophy says: “I am because we are.”
Nowadays, this has turned into a kind of superpower. Society, so focused on individuality—each person in their literal personal technology rectangle—makes solitude the norm. Considering this context, we reflect on practices that allow for listening. Many indigenous peoples have traditional talking circles, where each person has the right to speak, while others practice listening without judgment. These traditions teach us that true change does not happen through individual discourse, but rather through the creation of spaces where multiple truths can coexist, interact, and transform each other. When we create these environments of sharing, we allow different voices and visions to intertwine in new possibilities of being and existing in the world.
This is essential at a time of global setbacks, as countries and corporations reduce or dismantle their commitments to Diversity, Equity, and Inclusion (DEI), and polarizing figures attack human rights. This issue, therefore, responds to this scenario by celebrating representation, authenticity, creativity, and a sense of community. For us, this is the essential force for innovation and cultural transformation.
Each person carries a story shaped by ancestry, experiences, and worldview. These journeys can illuminate paths, deconstruct prejudices, and inspire new horizons. When someone shares their genuine truth, their struggles, their discoveries, their failures, and their victories, they create bridges of empathy that allow others to recognize their own reflected experiences. Through vulnerability insights that no single voice could achieve can emerge. And no matter the field, as we show in this issue: unique perspectives in art, fashion, design, entertainment, and technology drive cultural and social transformations, paving the way for innovative solutions and meaningful change.
In our Essays, we invited voices from different contexts and generations to delve deeper into topics that touch on the essence of collectivity. In “Speaking of generations,” Helena Theodoro reflects on how the traditions of terreiros and carnaval create sacred spaces, where past and present intertwine to preserve culture and transform communities. Renata Felinto, in “The Nanasístico Pact of Blackness,” questions the power structures within the visual arts system, rejecting superficial “inclusion” and proposing “artistic villages” that operate following Black and Indigenous epistemologies. In “Beauty is something ignited from within,” Ana Flor Fernandes Rodrigues proposes happiness as an act of political resistance, showing how marginalized communities exercise “radical imagination” to create other possible tomorrows.
In the Creative Space section, we bring two projects that transform narratives into platforms for resistance and community education: Afrobapho and the podcast Escute as Mais Velhas. Focusing on art and entertainment, this issue’s Questions For features interviews with artists and thinkers, including Uýra, Ingrid Silva, Mônica Ventura, Kaê Guajajara, Bridget Banton, Rahel de Vriend, Daniel Gonçalves, and Larissa de Souza. And in Short Stories, Amara Moira entertains in pajubá with “The Queen,” while Felippe Canale explores the challenges and possibilities of migration in “Navigating Identity in a New Land.”
Language, authorship, and identity are all present in our cover editorial, which combines text and image in a sensitive and provocative art manifesto. Tatt uses words as raw material, transforming models into co-authors. The proposal invites the public to see beyond aesthetics, valuing gestures, presence, and words as affirmations of subjectivity.
In the editorial “Roots of the future,” created in partnership with our sponsor, Instituto C&A—the social pillar of C&A Brazil—we connect fashion, sustainability, and diversity, inspired by the historical context of COP30 in the Amazon. Through visual narratives that reflect current climate challenges and celebrate Brazil’s cultural diversity, the shoot features styling based on conscious practices, such as the use of organic fabrics, recycled materials, and artisanal processes.
In the following pages, we celebrate the dreamers and changemakers who have the courage to imagine and build a different world, here and now. Through music, art, entertainment, and the creation of communities of resistance, these cultural agents break down barriers and reaffirm belonging and the joy of being. Their voices drive revolution—they are visionaries who reclaim the freedom to live authentically.
In uncertain times, we do not seek to raise the alarm, but to extend a radical invitation: an ode to a present with more listening, where we open ourselves to hear the stories that surround us, especially those furthest from our reality. Where innovation is born of empathy, collective strength, and the celebration of narratives that shape the world. Voices of resilience, creativity, and collectivity help us imagine a world where no one is left behind, where together we fight for the freedom of all—freedom of expression, freedom to be, to exist, to come and go; the freedom to tell our story and, more than that, the freedom to create our own narrative.
We believe in the power of community to transform and resist, one story at a time—and this issue is an invitation. From today’s dreamers to tomorrow’s architects, we highlight the power of community in this collective and courageous construction. One voice at a time.
What about you—are you ready to tell your story?
Eu sou porque nós somos
Desde a primeira edição do Stories Collective, entendemos o poder e o impacto de boas histórias. As narrativas e trajetórias podem ser únicas (e celebradas por isso), mas elas impactam o todo. Afinal, não estamos sozinhos: nossa individualidade, nossa identidade e nossa autenticidade fazem parte de algo maior. Como já dizia a filosofia Ubuntu: “Eu sou porque nós somos”.
Atualmente, isso acaba sendo uma espécie de superpoder. A sociedade, tão focada no individual — cada um literalmente no seu retângulo tecnológico —, faz com que a solidão seja a norma. Nesse contexto, refletimos sobre práticas que permitem a escuta. Diversos povos originários têm tradições de círculos de conversa, em que cada pessoa tem o direito de falar, enquanto outros praticam a escuta, sem julgamento. Essas tradições nos ensinam que a verdadeira mudança não acontece através de discursos individuais, e, sim, da criação de espaços onde múltiplas verdades podem coexistir, dialogar e se transformar mutuamente. Quando criamos esses ambientes de compartilhamento, permitimos que diferentes vozes e visões se entrelaçam em novas possibilidades de ser e estar no mundo.
Isso é algo essencial em um momento de retrocessos globais, em que países e corporações reduzem ou desmantelam seus compromissos com Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI), e figuras polarizadoras atacam os direitos humanos. Esta edição, portanto, responde a esse cenário, celebrando a representatividade, a autenticidade, a criatividade e o senso de comunidade. Para nós, essa é a força essencial para a inovação e a transformação cultural.
Cada indivíduo carrega uma história, moldada por ancestralidade, vivências e visão de mundo. Essas trajetórias podem iluminar caminhos, desconstruir preconceitos e inspirar novos horizontes. Quando alguém compartilha sua verdade genuína, suas lutas, suas descobertas, seus fracassos e suas vitórias, cria pontes de empatia que permitem que outros reconheçam suas próprias experiências refletidas. É através da vulnerabilidade que emergem insights que nenhuma voz sozinha poderia alcançar. E não importa a área de atuação, como mostramos nesta edição: perspectivas únicas na arte, na moda, no design, no entretenimento e na tecnologia impulsionam transformações culturais e sociais, abrindo espaço para soluções inovadoras e mudanças significativas.
Nos Essays, convidamos vozes de diferentes contextos e gerações para aprofundar temáticas que tangenciam a essência da coletividade. Em “Falando de gerações”, Helena Theodoro reflete sobre como as tradições dos terreiros e do Carnaval criam espaços sagrados, onde passado e presente se entrelaçam para preservar a cultura e transformar comunidades. Renata Felinto, por sua vez, questiona, em “O Pacto Nanasístico da Pretitude”, as estruturas de poder no sistema das artes visuais, rejeitando a “inclusão” superficial e propondo “aldeamentos artísticos” que operam por epistemologias negras e indígenas. Já em “Belezas são coisas acesas por dentro”, Ana Flor Fernandes Rodrigues propõe a felicidade como ato de resistência política, mostrando como comunidades marginalizadas exercitam a “imaginação radical” para criar outros amanhãs possíveis.
Na seção Creative Space, apresentamos dois projetos que transformam narrativas em plataformas de resistência e educação comunitária: o Afrobapho e o podcast Escute as Mais Velhas. Com foco em arte e entretenimento, o Questions For desta edição traz entrevistas com artistas e pensadores, entre eles Uýra, Ingrid Silva, Mônica Ventura, Kaê Guajajara, Bridget Banton, Rahel de Vriend, Daniel Gonçalves e Larissa de Souza. E no Short Stories, Amara Moira diverte em pajubá com “A Loca”, enquanto Felippe Canale explora os desafios e as possibilidades de migrar em “Navegar a identidade”.
Linguagem, autoria e identidade aparecem no nosso editorial de capa, que une texto e imagem em uma arte-manifesto sensível e provocativa. Tatt utiliza a palavra como matéria-prima, transformando modelos em coautores. A proposta convida o público a enxergar além da estética, valorizando gestos, presenças e palavras como afirmações de subjetividade.
Na matéria “Moda que Transforma”, conversamos com Cyntia Watanabe, Gerente Sênior de Comunicação e ASG do Instituto C&A. Ela conta sobre as iniciativas e eventos que consolidam o pilar social da C&A Brasil enquanto um agente que olha para a indústria como uma plataforma de inclusão social, fortalecimento de redes criativas e sustentabilidade. Por isso, se faz presente em mais uma edição do Stories Collective como patrocinador.
Nas páginas a seguir, celebramos, portanto, os sonhadores e agentes de mudança que têm a coragem de imaginar e construir um mundo diferente, aqui e agora. Por meio da música, da arte, do entretenimento e da criação de comunidades de resistência, esses agentes culturais quebram barreiras e reafirmam o pertencimento e a alegria de ser. Suas vozes impulsionam a revolução — são visionários que reivindicam a liberdade de viver autenticamente.
Em tempos incertos, não buscamos alarmar, mas fazer um convite radical: uma ode a um presente de mais escuta, onde nos abrimos para ouvir as histórias que nos cercam, principalmente as que estão mais longe da nossa realidade. Onde a inovação nasce da empatia, da força coletiva e da celebração das narrativas que moldam o mundo. Vozes de resiliência, criatividade e coletividade nos ajudam a imaginar um mundo onde ninguém é deixado para trás, onde juntos lutamos pela liberdade de todos — liberdade de expressão, liberdade de ser, de existir, de ir e vir; a liberdade de contar nossa história e, mais do que isso, a liberdade de criar nossa própria narrativa.
Acreditamos no poder da comunidade para transformar e resistir, uma história de cada vez — e que esta edição seja um convite. Dos sonhadores de hoje aos arquitetos do amanhã, destacamos o poder da comunidade nessa construção coletiva e corajosa. Uma voz de cada vez.
E você, está pronto para contar a sua história?